Antônio Carlos
Costa
V. 16 Andando junto ao mar da Galiléia,
viu Simão e André, seu irmão. Eles estavam lançando as redes ao mar, pois eram
pescadores.
Toda salvação é antecedida pelo
preconhecimento e predeterminação de Deus. Cristo vê Simão e André e os chama.
"Deus não está a procura do objeto do seu amor. Ele o cria", como
alguém já disse. Primeiro somos vistos. Vistos na nossa aflição, miséria,
abandono, culpa. Esse é o olhar da misericórdia. Deus olha e se compadece. Sabe
que sem a sua graça o homem jamais inclinará sem coração para o seu Criador. É
um olhar eletivo. Como o da águia no seu vôo fixando os olhos na presa. Só que,
aqui, é a fixação do olhar no objeto da sua compaixão e graça. Jesus olha para
Simão e André para salvá-los. Assim aconteceu contigo e comigo. Nós o amamos
porque Ele nos amou primeiro. Só vemos por termos sido vistos.
V. 17 Disse-lhes Jesus: Vinde a mim, e
eu vos tornarei pescadores de homens.
Quando um homem é objeto do olhar
eletivo de Deus, ouve o chamado irresistível do que ama. Cristo os chamava para
a salvação e a missão. Deus chama o homem para amá-lo e servi-lo. Primeiro eles
deveriam andar literalmente com Cristo. Esse "vinde a mim" significava
andar com Cristo pelo solo da Palestina. Estar com Ele. Ouvir seus
ensinamentos. Aprender a ver a vida com os olhos de Deus e a amar. Entrar na
aventura de seguir um obstinado. Seguir a Cristo é ir após alguém fascinado por
cumprir a vontade do Pai. Isso tem sérias implicações para a vida de todo
discípulo. Envolve sofrimento, perseguição e morte.
Na presença de Cristo eles seriam
tornados em algo. Passariam por profunda mudança. Desenvolveriam capacidades
nunca antes imaginadas e exploradas. Tornar-se-iam aptos a resgatar vidas
humanas da sua condição de escravidão ao pecado, ao medo e à morte. Pescadores
de homens. Através de suas vidas homens seriam fisgados ao serem atraídos pelo
evangelho da graça infinita.
V. 18 Então, imediatamente, eles
largaram as redes e o seguiam.
A mensagem chegou aos seus
corações com senso de urgência. Não houve procrastinação. Entenderam que
encontravam-se diante de um incalculável privilégio. Ser chamado pelo Filho de
Deus para o cumprimento de missão gloriosa. Quantos erram nessas horas,
decidindo não decidir, desperdiçando o melhor da vida, que poderia ser
consagrado para Deus e sua obra.
Eles não sabiam plenamente o que
estavam fazendo. Quantas lutas os aguardariam. Mas, quanta glória. Não podiam
imaginar o que seus olhos veriam e a marca que deixariam na vida. Através do
cumprimento do seu chamado, edificariam o reino de Cristo e mudariam o curso da
história da humanidade, espalhando o evangelho, organizando igrejas, por cuja
influência dos seus membros os valores da fé cristã forjariam culturas inteiras
e delineariam a vida em sociedade.
Eles não largaram um ofício profano
para se dedicarem a um trabalho santo. Era possível pescar para a glória de
Deus. Podemos supor que muitos pescadores foram alcançados pelo mesmo
evangelho, mas em vez de receberem o chamado para o ministério de tempo
integral, receberam a vocação de pescarem para a glória de Deus. Glorificamos a
Deus não quando nos tornamos missionários de tempo integral, mas quando somos
fiéis à nossa vocação.
A metáfora é perfeita. Evangelizar é
pescar. Requer paciência, habilidade, conhecimento das marés culturais, entre
tantas outras virtudes mais. Lembro-me do reverendo Antonio Elias falar sobre
pregadores que pregam de modo que poucas pessoas podem acompanhar seu
raciocínio. Ele dizia: "Eles colocam muito chumbo no anzol, e a ísca vai
para o fundo. Mas, há peixes que vivem na superfície d'água. Estes só serão
fisgados por anzol quase boiando, com pouco chumbo".
Vs, 19-20 Passando um pouco mais
adiante, Jesus viu os irmãos Tiago e João, filhos de Zebedeu, que estavam no
barco consertando as redes, e logo os chamou. E eles passaram a segui-lo,
deixando seu pai Zebedeu com os empregados no barco".
Mais dois irmãos são objetos do mesmo
amor. Era Cristo montando sua equipe. Homens que alterariam o curso da
história. Finalmente, a partir dessa gente simples, nações do mundo inteiro
teriam a oportunidade de conhecer um Deus diferente, doce, amoroso, perdoador.
Cristo não vai para Atenas ou Roma. Tudo começa no obscuro mar da Galiléia.
Esse tem sido o método de Deus.
Simão e André foram chamados enquanto
lançavam as redes. Tiago e João, enquanto consertavam. Em não poucas ocasiões a
igreja se vê na necessidade de fazer ambas as coisas. Anunciar o evangelho para
os de fora, anunciar o evangelho para os de dentro. Evangelizar e reformar. Sem
reformar, os peixes passam pelos buracos da rede para nunca mais voltar. Que
desgraça uma geração inteira se perder por causa dos furos deixados pela
igreja.
Mais uma vez percebemos o mesmo senso
de urgência. Aceitam o chamado imediatamente. A vida passa rapidamente, e nós
voamos, foi o que disse Moisés no salmo 90. O tempo é bem precioso, escasso e
incerto. Ninguém sabe o quanto ainda tem disponível. Essa vida que passa tão
rápido, não é um ensaio. O tempo que gastamos ensaiando para entrar na vida
real é a vida real. Não podemos desperdiçar tamanho privilégio: ser chamado
para servir ao Criador. Nunca mais a humanidade terá a oportunidade de servir a
Deus nas condições atuais de vida. Glorificá-lo nas circunstâncias infernais
deste mundo caído.
Mais uma advertência precisa ser feita.
Da mesma forma que o evangelho não mesnopreza nenhuma atividade profissional
legítima, não banaliza as relações familiares. Não há vestígio nas Escrituras
de estímulo à negligência do cuidado de pai e mãe. Eles tinham que partir, mas
não deixar de amar. Ao mesmo tempo, contudo, não podemos permitir que o nosso
amor por aqueles que nos são tão caros, nos impeça de servir a Cristo. Se esse
tiver que ser o seu caso, saiba que Deus cuidará de tudo o que lhe diz respeito
enquanto você cuida de tudo o que diz respeito a Deus.
O que estamos esperando? Deixemos para
trás tudo, servindo com alegria ao reino de Cristo, aceitando o convite para
entrar nesta gloriosa aventura.
Antônio Carlos Costa é pastor da Igreja Presbiteriana da Barra e presidente do Rio de Paz.
Leia Mais em: http://www.genizahvirtual.com/#ixzz2Cf2rXkHT
Under Creative Commons License: Attribution Non-Commercial Share Alike
Nenhum comentário:
Postar um comentário