Pr. Giuliano Miotto
Nestes últimos dias, os quais a Palavra de Deus nos alertou que
seriam muito difíceis e que um de seus sinais é de que os homens seriam
“egoístas, avarentos, presunçosos, arrogantes, blasfemos, desobedientes
aos pais, ingratos, ímpios, sem amor pela família, irreconciliáveis,
caluniadores, sem domínio próprio, cruéis, inimigos do bem,traidores,
precipitados, soberbos, mais amantes dos prazeres do que amigos de Deus,
tendo aparência de piedade, mas negando o seu poder” (2 Tm 3:2-5),
estamos vendo uma tremenda proliferação, sem precedentes, de
denominações, facções e “tribos” no meio evangélico, cada uma andando em
sua “visão” ou direção, algumas até declarando que são os portadores da
única “visão” válida de Deus para os últimos dias.
Neste cenário aterrador e cheio de enganos e falsas doutrinas,
soergueu-se uma expressão no meio cristão que é chamada de Cobertura
Espiritual, a qual quer dizer, em termos bastante simplórios, que uma
determinada pessoa ou ministério deve andar debaixo da “Cobertura”, ou
proteção, ou direção espiritual de outra pessoa ou ministério. Muitos
dos grandes “líderes” e ministérios que surgiram nos últimos vinte anos,
têm se utilizado deste conceito de “Cobertura Espiritual”, o qual, como
veremos no presente artigo, está sendo mal utilizado e, pior, tem
servido apenas para que uns poucos homens dominem sobre muitos,
dirigindo a vida das pessoas de forma até mesmo abusiva e fora da
Palavra.
A primeira Palavra que nos utilizaremos, para embasar a
presente tese, será o texto de Isaías 30, verso 1, vejamos: “Ai dos
filhos rebeldes, diz o SENHOR, que tomaram conselho, mas não de mim! E
que se cobriram com uma cobertura, mas não do meu Espírito, para
acrescentarem pecado a pecado!”
Vejamos o conceito que está
explícito no texto de Isaías, Deus considera como rebeldes os filhos que
buscam uma cobertura diferente daquela que Ele gostaria de dar, através
de Seu Espírito, diz de pessoas que buscaram conselho não do Senhor,
mas de simples homens.
Por isso, a Bíblia diz que eles acrescentaram
pecado sobre pecado, ou seja, erro sobre erro. Quando buscamos
simplesmente o conselho de outros homens, sem buscar o conselho supremo
de Deus, através do Espírito Santo, acontece que os erros que existem na
vida daquele homem, passam a ser os erros que vão pesar sobre a nossa
vida. Quer um exemplo disso? Imagine um pastor que busque “cobertura
espiritual” de outro pastor que seja adepto de uma doutrina ou direção
que não é de acordo com a Palavra, os erros da sua “Cobertura” vão ser
reproduzidos com “integridade” em seu ministério e na direção que ele
vai passar para os seus liderados. Isto, acontece como um efeito
cascata, onde as pessoas da ponta não têm o direito de questionar a
“direção” de seu líder, tendo em vista que o conceito dominante é de que
qualquer pessoa que não execute sem questionar é considerado
imediatamente como rebelde e insubmisso.
Por isso, ao buscarmos uma
cobertura que não seja a do Espírito Santo, estamos apenas acrescentando
pecado sobre pecado, ou erro sobre erro.
Por causa deste engano
de procurar a cobertura espiritual de homens imperfeitos e impuros,
passamos a temer muito mais estes homens, do que a Deus e incidimos no
que está escrito no verso 13, do capítulo 29 de Isaías: “Porque o Senhor
disse: Pois que este povo se aproxima de mim e, com a boca e com os
lábios, me honra, mas o seu coração se afasta para longe de mim, e o seu
temor para comigo consiste {só} em mandamentos de homens, em {ou que
aprendeu de cor;} que foi instruído;” Daí, acabamos andando apenas de
acordo com os mandamentos humanos e, embora pareça que estamos honrando
ao Senhor com nossos lábios, na verdade estamos honrando e servindo
muito mais à criatura do que ao Criador que é bendito eternamente,
motivo pelo qual Deus nos entrega a um sentimento perverso e às paixões
infames (Rm 1:25-26). Talvez seja por isso que estes homens da cobertura
espiritual estejam tão preocupados em receber com tanta voracidade os
dízimos e as primícias de seus comandados, para construírem seus
castelos e viverem regaladamente com o dinheiro que deveria ser
ministrado às viúvas, aos órfãos e aos pequeninos do Senhor.
Vejamos
agora um fato sobre a história de Moisés, quando o mesmo estava
sobrecarregado ministerialmente, no livro de Números, capítulo 11, vemos
Moisés reclamar para Deus no verso 14: “eu sozinho não posso levar a
todo este povo, porque muito pesado {é} para mim.”. Ao que diz o Senhor a
ele nos versos 16 e 17: “E disse o SENHOR a Moisés: Ajunta-me setenta
homens dos anciãos de Israel, de quem sabes que são anciãos do povo e
seus oficiais; e os trarás perante a tenda da congregação, e ali se
porão contigo. Então, eu descerei, e ali falarei contigo, e tirarei do
Espírito que {está} sobre ti, e {o} porei sobre eles; e contigo levarão a
carga do povo, para que tu sozinho {o} não leves.”
É muito importante
verificarmos o que está acontecendo nestes versos, pois Deus não disse a
Moisés que constituísse os setenta anciãos e lhes desse cobertura
espiritual, pelo contrário, Deus disse que iria TIRAR uma parte do
Espírito Santo que estava sobre Moisés e Ele mesmo (Deus) o colocaria
sobre os setenta, por causa disto, eles seriam também constituídos como
ministros no meio do povo, para dividirem a carga de Moisés. Na
seqüência deste episódio, o verso 25, demonstra bem esta questão:
“Então, o SENHOR desceu na nuvem e lhe falou; e, tirando do Espírito que
{estava} sobre ele, {o} pôs sobre aqueles setenta anciãos; e aconteceu
que, quando o Espírito repousou sobre eles, profetizaram; mas, depois,
nunca mais.”. Um fato interessante é o caso de dois homens haviam ficado
no Arraial e que começaram a profetizar, ao ver isto, um moço do
arraial foi dar notícia a Moisés, ao que Josué pediu para que este os
proibisse de profetizar , vejamos a maravilhosa resposta dada a esta
questão no verso 29: “Porém Moisés lhe disse: Tens tu ciúmes por mim?
Tomara que todo o povo do SENHOR fosse profeta, que o SENHOR lhes desse o
seu Espírito!”.
Um fato que devemos levar em consideração com
relação a este episódio é de que naquele tempo o Espírito Santo ainda
não havia sido derramado sobre toda a carne, como profetizado pelo
profeta Joel, ainda era dado o Espírito sob medida, prova disso é o
texto de João que fala a respeito de Jesus: “Porque aquele que Deus
enviou fala as palavras de Deus; pois não lhe dá Deus o Espírito por
medida.” (Jo 3:34) E, ainda, o texto do livro de Atos dos Apóstolos:
“Mas isto é o que foi dito pelo profeta Joel: E nos últimos dias
acontecerá, diz Deus, Que do meu Espírito derramarei sobre toda a carne;
E os vossos filhos e as vossas filhas profetizarão, Os vossos jovens
terão visões, E os vossos velhos terão sonhos; E também do meu Espírito
derramarei sobre os meus servos e as minhas servas naqueles dias, e
profetizarão;”
Tais textos bíblicos comprovam a uma, que o
Espírito Santo seria derramado sobre toda carne, a duas, que todos (não
só os cobertores espirituais) iram profetizar, ou seja, poder falar das
coisas de Deus e compreender “O mistério que esteve oculto desde todos
os séculos, e em todas as gerações, e que agora foi manifesto aos seus
santos;” (Colossenses 1:26).
É possível que algum desses
“apóstolos” ou “líderes” modernos poderiam argumentar em cima do texto
de Números 12, versos 6 a 8, que Deus tinha um carinho especial com
Moisés que falava com ele face a face, talvez algum desses líderes da
“Cobertura Espiritual” tenham a pretensão de invocar este detalhe da
história para dizerem que Deus fala com eles de modo especial e com seus
“liderados” apenas em sonhos.
Ora, para aqueles que têm tal pretensão
de se acharem melhores do que os demais irmãos, basta lembrarmos aquele
texto de Apocalipse segundo o qual todos aqueles que foram amados por
Jesus e lavados por seu sangue, tiveram a honra de serem feitos “reis e
sacerdotes para Deus e seu Pai; a ele glória e poder para todo o sempre.
Amém.” (1:6) E, ainda, a profecia que se cumpriu em Cristo, descrita no
livro de Hebreus 10:16: “Esta é a aliança que farei com eles Depois
daqueles dias, diz o Senhor: Porei as minhas leis em seus corações, E as
escreverei em seus entendimentos; “.
Um outro exemplo do Antigo
Testamento de que não devemos nos colocar debaixo da “cobertura
espiritual” de um simples mortal é a história de Samuel. Quando este
ainda era criança e estava debaixo da cobertura pastoral ou sob os
cuidados do sacerdote Eli, ao qual Samuel servia no Templo, este ouviu a
voz do Senhor no momento em que se preparava para dormir. O
interessante é que Deus não falou com o “maioral” espiritual do Templo,
falou com o pequenino Samuel, Eli apenas o orientou em como responder ao
chamado de Deus e assim deveria ser a relação entre aqueles que estão
na posição de pastores e seus liderados. O pior de tudo é que a Palavra
de Deus revelada a Samuel era uma profecia contra a própria casa, ou
autoridade, de Eli. Imaginem hoje em dia uma pequena ovelha chegando-se
ao líder máximo de seu ministério dizendo que Deus lhe falou que sua
casa está condenada. Se fosse um desses pastores modernos, com suas
teorias sobre cobertura espiritual, com certeza ira querer dominar sobre
a situação e iria dizer: “Isso não procede, Deus não falou comigo, você
ainda é muito imaturo e não tem o discernimento que eu tenho para essas
coisas.” Enfim, um desses grandes “líderes” da igreja moderna com
certeza usaria de sua “autoridade” para calar a boca do pequeno profeta.
Talvez você esteja lendo este artigo e não esteja concordando
com nada disso, mas peço que abra sua Bíblia no famoso Salmo 91, Deus me
mostrou que este texto fala exatamente sobre cobertura espiritual
quando afirma: “Aquele que habita no esconderijo do Altíssimo, à sombra
do Onipotente descansará. Direi do SENHOR: {Ele é} o meu Deus, o meu
refúgio, a minha fortaleza, e nele confiarei. Porque ele te livrará do
laço do passarinheiro {e} da peste perniciosa. Ele te cobrirá com as
suas penas, e debaixo das suas asas estarás seguro; a sua verdade é
escudo e broquel.” Vejamos que a condição para sermos livres de todos os
males descritos no mesmo Salmo é a de que estejamos não debaixo da
“cobertura espiritual” de algum líder proeminente, nem que estejamos
cobertos por pessoas especiais, mas que estejamos habitando dentro do
esconderijo do Altíssimo e debaixo de sua sombra. Somente alguém que
seja maior do que todo o universo é que pode cobrir nossas vidas,
deixando-nos tranqüilos e protegidos. Alguém se lembra da expressão:
sombra e água fresca? Fico maravilhado com o grand finale deste salmo:
“Pois que tão encarecidamente me amou, também eu o livrarei; pô-lo-ei
num alto retiro, porque conheceu o meu nome. Ele me invocará, e eu lhe
responderei; {estarei} com ele na angústia; livrá-lo-ei e o
glorificarei. Dar-lhe-ei abundância de dias e lhe mostrarei a minha
salvação.”
Nós não precisamos conhecer e honrar o nome de pessoas
comuns e tão pecadoras quanto nós mesmos, quanto precisamos aprender a
conhecer e a glorificar o Nome que é sobre todo nome. Aliás, a nós
ocidentais, falta este conceito tão sublime a respeito do Nome santo do
Senhor. Um dos dez mandamentos é justamente que não devemos usar o Nome
do Senhor em vão. Este nome em hebraico é IHVH (Jeová ou Javé). Aos
judeus é mais fácil entender este conceito, pois eles são educados desde
crianças a nem mesmo pronunciarem este nome, substituindo-o pelo termo
Adonai, que significa Senhor. Algo como, na dúvida, não ultrapasse.
Diante
de tais fatos e fundamentos, defendo veementemente que a expressão
“cobertura espiritual” para definir o fato de uma pessoa estar debaixo
da autoridade de outra pessoa que lhe seja mais proeminente, está
absolutamente equivocada e tem produzido muitos males para o Corpo de
Cristo. Talvez alguém defenda idéia diferente, dizendo que as pessoas
devem estar debaixo da cobertura de outra pessoa bem sucedida
ministerialmente, pois o “manto espiritual” que está sobre o líder,
passaria automaticamente para o liderado. O grande problema disso é que
também os erros e pecados do líder, acabam passando para o liderado, o
qual apenas acumula pecado sobre pecado.
Deste modo, sugiro aos
meus cooperadores que são líderes, pastores, bispos ou apóstolos que, ao
invés de querer dominar sobre os outros, estabelecendo seu estilo e sua
“visão” apostólica dos santos dos últimos dias, simplesmente passem a
cuidar do pequeno rebanho do Senhor, pastoreando as ovelhinhas que andam
por aí doentes, descaídas e sem ração. Mudemos esse termo “cobertura
espiritual” para algo como “cobertura pastoral”, talvez ainda dê tempo
de mudar toda essa loucura que entrou no coração dos homens que deveriam
estar servindo na Casa do Senhor, ao invés de estarem viajando por
todos os lados para estabelecerem suas bandeiras, doutrinas e
denominações.
Quero encerrar este estudo lembrando as palavras do
Apóstolo Paulo, em sua carta aos Coríntios: “Porque a respeito de vós,
irmãos meus, me foi comunicado pelos da família de Cloe que há contendas
entre vós. Quero dizer, com isso, que cada um de vós diz: Eu sou de
Paulo, e eu, de Apolo, e eu, de Cefas, e eu, de Cristo. Está Cristo
dividido? Foi Paulo crucificado por vós? Ou fostes vós batizados em nome
de Paulo?” (I Co 1:11-13). Infelizmente este conceito é sempre
esquecido por estes que querem dominar e mandar na vida de “seus
discípulos”, e sempre escutamos aqui e ali, um dizendo eu sou de Paulo, o
outro, eu de Apolo, e outros dizendo eu sou presbiteriano tradicional,
outro renovado, outro assembleiano, batista, videirano, metodista etc.
(são tantas divisões…) Melhor do que meramente pertencer a uma
denominação e estar debaixo do jugo dos homens é ter a firme convicção
de que fazemos parte do Corpo de Cristo e estamos debaixo da cobertura
que só o Espírito Santo pode verdadeiramente nos dar. Acreditem, Ele
ainda está no controle de seu verdadeiro Corpo.
Giuliano Miotto é pastor e servo de uma comunidade de salvos de
Goiânia – Goiás, é um conspirador nato e tem idéias subversivas e
incompatíveis com o pensamento dominante do meio evangélico. Nas horas
vagas exerce a profissão de advogado.
Fonte genizah.
Ps. Concordo com o texto no que diz respeito a pessoas, porem creio que a igreja deve estar aliançada e seus lideres devem prestar contas a alguem, para que não se torne uma ceita onde um iluminado toma todas as decisões.
ResponderExcluirpor isso é importante se ligar a um grupo de igrejas, convenção ordem ou agencia missionaria que o fiscalize.