quinta-feira, 21 de março de 2013

David Livingstone, o missionário que revelou a África ao Ocidente


O Reino Unido comemora nesta terça-feira o bicentenário de nascimento do explorador escocês David Livingstone (1813-1873), que foi à África como missionário médico anglicano e acabou chegando às fontes do Nilo e lutando contra a escravidão da época vitoriana.
A Royal Geographical Society realizou diversas conferências para celebrar a ocasião, e o Museu Nacional da Escócia manterá aberta até o dia 7 de abril uma exposição dedicada ao primeiro ocidental que contemplou "Mosi-oa-Tunya" ("A fumaça que troveja") e a rebatizou como as cataratas Vitória.
Livingstone dedicou décadas a explorações que obrigaram os cartógrafos da época a revisar todos as mapas da África, prestou atendimento médico aos nativos e defendeu seus direitos perante os colonos europeus.
Fascinado pela África, negou-se a voltar ao Reino Unido quando a malária e a disenteria o consumiam a ponto de completar 60 anos. Na época, o escocês era uma celebridade no Ocidente pelas narrações de suas viagens, mas tinha passado tantos anos sem dar sinais de vida que nos salões de Londres e Nova York se era dado como morto.
Devido à falta de notícias do aventureiro, o jornal "New York Herald", ávido por histórias exclusivas, decidiu bancar uma expedição para encontrá-lo, tarefa que ficou com o jornalista e explorador Henry Stanley.
O intrépido galês partiu em 1871 rumo à África e, após uma longa procura, encontrou Livingstone na aldeia de Ujiji (Tanzânia), às margens do lago Tanganica, onde se apresentou com uma frase que ficou gravada como o clímax da prospecção africana: "Doutor Livingstone, suponho".
Stanley tinha tido a sorte de se deparar com o escocês na imensa África, mas o fez quando as doenças tinham minguado já parte de suas forças, dois anos antes de sua morte.
Mesmo assim, Livingstone o deslumbrou com sua personalidade magnética e o convenceu a adiar seu retorno para casa, onde deveria anunciar que o célebre explorador continuava vivo, para explorarem juntos a região do então desconhecido lago Tanganica.
Naquele momento fazia 30 anos que o médico de Glasgow, segundo filho de um humilde comerciante de chá conhecido por sua fervorosa religiosidade, tinha desembarcado no continente africano como missionário, disposto a evangelizar a população local.
Anos mais tarde, ele deixaria de estar ligado à Sociedade Missionária de Londres, que o tinha enviado à África, e estreitaria sua relação com a Royal Geographical Society, que o contratou em 1865 para buscar as fontes do Nilo e acabou lhe concedendo sua Medalha de Ouro.
Quase uma década antes, em 1856, Livingstone tinha vivido seu momento de maior glória, quando foi recebido no Reino Unido como um herói após 16 anos de viagem.
Ele teve uma audiência com a rainha Vitória - a quem tinha homenageado ao batizar as cataratas recém descobertas na fronteira dos atuais Zâmbia e Zimbábue -, publicou suas aventuras, que lhe deram uma boa quantia em dinheiro, e deu palestras em universidades britânicas antes de voltar, dois anos depois, para a África.
A poucos dias de embarcar, Livingstone ressaltou na Universidade de Glasgow que sua missão não era apenas geográfica, mas "muito mais elevada": "Não pode ser o desígnio da providência que o horrível sistema baseado na escravidão exista para sempre".
O escocês não se preocupou apenas em desenhar os novos mapas do mundo: desenvolveu um reconhecido trabalho como médico (ele foi o primeiro ocidental a verificar que a presença de mosquitos antecipava a aparição da malária) e tentou evitar os abusos dos colonos europeus na África no século XIX.
Sua defesa dos direitos dos africanos lhe valeu o respeito dos nativos por onde passou até o ponto que, segundo a lenda, os moradores do povoado onde morreu, em Zâmbia, enterraram lá seu coração antes que seu corpo fosse repatriado a Londres.
O corpo de Livingstone está no cemitério da Abadia de Westminster, junto de outros ilustres britânicos como Charles Darwin, Isaac Newton e Charles Dickens.

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